quarta-feira, agosto 09, 2006

Sobre o Amor

"Então Almitra disse, fala-nos do Amor.
E ele ergueu a cabeça e olhou para o povo e caiu uma grande imobilidade sobre eles. E em voz poderosa ele disse:
Quando o amor vier ter convosco,
Seguros embora os seus caminhos sejam árduos e sinuosos.
E quando as suas asas vos envolverem, abraçai-o, embora a espada oculta sob as asas vos possa ferir.
E quando ele falar convosco, acreditai,
Embora a sua voz possa abalar os vossos sonhos como o vento do norte devasta o jardim.
Pois o amor, coroando-vos, também vos sacrificará. Assim como é para o vosso crescimento também é para a vossa decadência.
Mesmo que ele suba até vós e acaricie os mais ternos ramos que tremem ao sol,
Também até às raízes ele descerá e abaná-las-á
Enquanto elas se agarram à terra.
Como molhos de trigo ele vos junta a si.
Vos amanha para vos pôr a nu.
Vos peneira para vos libertar das impurezas.
Vos mói até à alvura.
Vos amassa até vos tomardes moldáveis;
E depois entrega-vos ao seu fogo sagrado, para que vos tomeis pão sagrado para a sagrada festa de Deus.
Toda estas coisas vos fará o amor até que conheçais os segredos do vosso coração, e, com esse conhecimento, vos tomeis um fragmento do coração da Vida.
Mas se, receosos, procurardes só a paz do amor e o prazer do amor,
Então é melhor que oculteis a vossa nudez e saiais do amor,
Para o mundo sem sentido onde rireis, mas não com todo o vosso riso, e chorareis mas não com todas as vossas lágrimas.
O amor só se dá a si e não tira nada senão de si.
O amor não possui nem é possuído;
Pois o amor basta-se a si próprio.
Quando amardes não deveis dizer "Deus está no meu coração", mas antes "Eu estou no coração de Deus".
E não penseis que podeis alterar o rumo do amor, pois o amor, se vos achar dignos, dirigirá o seu curso.
O amor não tem outro desejo que o de se preencher a si próprio.
Mas se amardes e tiverdes desejos, que sejam esses os vossos desejos:
Fundir-se e ser como um regato que corre e canta a sua melodia para a noite.
Para conhecer a dor de tanta ternura.
Ser ferido pela vossa própria compreensão do amor;
E sangrar com vontade e alegremente. Despertar de madrugada com um coração alado e dar graças por mais um dia de amor; Repousar ao fim da tarde e meditar sobre o êxtase do amor; Regressar a casa à noite com gratidão; E depois adormecer com uma prece para os amados do vosso coração e um cântico de louvor nos vossos lábios."


In “O Profeta” de Khalil Gibran

5 comentários:

Desassossego disse...

" - Fala-me de Amor. É que tenho tanta dificuldade em entender...Para mim, o amor está cheio de segredos!
- Segredos...E sentes que descobrir alguns desses segredos te pode ajudar?
- Tenho essa esperança. Mas não sei por onde começar. Ajuda-me.
demorou tempo até me segredar:
- Bem, fui descobrindo que na vida para gostar de alguém é essencial que se goste também de si próprio - e ainda mais baixinho - Para dar aos outros e a si mesmo o melhor."

Do livro fala-me de Amor - Graça Gonçalves....

Xi grande para ti...

Anónimo disse...

LINDO!!! Já tinha saudades de ler alguma coisa desse grande Mestre...

Meia Lua disse...

Khalil Gibran é um dos meus escritores preferidos, gosto da forma simples de falar da vida e tenho "O Profeta" numa edição com um CD que relata os seus textos de maneira incrível!
"O amor não possui nem é possuído;
Pois o amor basta-se a si prório"
A partir daqui, nada mais é preciso dizer :)

Vampiria disse...

o livro é lindíssimo, Luís. Quanto ao teu post debaixo... nao sei ate que ponto a verdade compensará assim tanto...

Utopia disse...

Foste etiquetado!
Vai ao meu blog e continua!