sexta-feira, julho 17, 2009

"Preciso de uma oportunidade"

 
Aos 30 anos e com três filhos para criar, Alda Susana Nunes está desesperada. Desde os 15 anos - altura em que a mãe foi presa e teve de tomar conta de si e de uma prima de cinco anos - que a vida é uma luta. Sem oportunidades.

"Parece que a minha sorte nunca muda. Estou a perder a esperança", conta esta mãe, residente em Rio Tinto, que sofre de uma depressão e já fez uma tentativa de suicídio.

Alda é um rosto da pobreza transgeracional, um padrão que as estatísticas demonstram ser difícil de romper. Eram oito filhos de um casal divorciado. Viviam com a mãe, o pai estava em Lisboa e nunca faltou com a pensão de alimentos. Quanto a mãe foi presa, foram os 12 contos que o pai lhe enviava que lhe permitiram sobreviver e mandar a prima para a escola.

"Queria ter uma família. Isso sempre foi o mais importante para mim", conta Alda, que começou a viver com o ex-marido aos 17 anos e teve o primeiro filho, João, um ano depois. Igor chegou quando ela tinha 21.

O marido, ciumento, não queria que ela trabalhasse. Agora, percebe que era uma forma de a manter cativa e dependente de uma relação marcada pela violência conjugal. Foram nove anos de maus-tratos agravados pelo alcoolismo do marido. Separaram-se e ele desapareceu da vida dos filhos.

O segundo companheiro e pai da Susana, de três anos, trocou a droga pelo álcool e revelou-se particularmente violento. Deixou-o antes de a menina nascer e, quando a situação atingiu o intolerável, Alda fez queixa por violência conjugal. Está a cumprir uma pena de prisão de dois anos e dois meses.

Desde Novembro que frequenta uma formação de apoio à comunidade e família, com equivalência ao 9.º ano, mas as faltas que já deu para tratar dos filhos colocam em risco a continuidade do curso. "Tenho muita pena se não continuar, porque gostava muito de trabalhar nessa área", diz Alda.

Com cinco meses de aluguer em atraso, sobre ela pende também a ameaça de despejo. A casa onde residem, em Rio Tinto, também está ameaçada. "O que mais preciso é de uma casa. Ainda agora fui à Câmara de Gondomar para ver se consigo uma casa, mas disseram-me para esperar."

"Não tenho medo de trabalhar. Já fui empregada de limpeza e de balcão, operadora de caixa, já trabalhei numa cozinha, já fiz muitas coisas e sinto-me com saúde para trabalhar", diz Alda. "Preciso de uma oportunidade", assim resume a sensação de impotência que tem perante a vida.

Sem apoio dos pais dos filhos ou dos seus irmãos, muitos são os meses em que o dinheiro não estica e tem de comprar fiado a comida. Para Alda, os filhos "estão sempre em primeiro lugar." A alimentação e a escola deles é o que mais me preocupa. Eu arranjo-me como posso."

 

Retirado do Jornal de Notícias online do dia 16 de Julho de 2009

 

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