"Isabel é uma católica convicta, praticante e com serviço à comunidade. No coro que assiste à missa, como catequista, nos encontros de casais (equipas de Nossa Senhora), a aconselhar os futuros casais (Centros de Preparação para o Matrimónio ) ou nas actividades dos escuteiros. Até ao dia em que pôs o seu casamento em causa e desfez os laços que a hierarquia religiosa considera serem indissolúveis. Foi obrigada a deixar algumas práticas religiosas, como o comungar. Sentiu-se injustiçada!
A injustiça é sentida por muitos casais católicos que se divorciam todos os anos. Em 2008, constituíram 60,5 % do total de divorciados, 26 110, um número que já é mais de metade dos casamentos anuais, 43 228.
O direito ao divórcio foi uma das primeiras bandeiras dos católicos a seguir ao 25 de Abril de 1974 e que lutavam contra a Concordata, de 1940, que os impossibilitava de se divorciarem. Voltaram a poder fazê-lo um ano depois da Revolução, mas a hierarquia religiosa impede-os de recasar e de participarem activamente na eucaristia, nomeadamente na comunhão e no apadrinhamento de uma criança.
Isabel Lopes, 52 anos, dois filhos adultos, casou pela Igreja Católica aos 23 com o primeiro namorado que teve, união que durou até aos 43, quando o casal já nada tinha de harmonia. Poderia manter as aparências... mas achou que tinha o direito a ser feliz. "Claro que me senti muito dividida, senti que estava a cortar com uma série de princípios que eu defendia, mas vivia numa situação insustentável", justifica.
Divorciou-se e voltou a constituir família. E a Isabel catequista e mentora deixou de ser um exemplo para a Igreja. "Vivo em concubinato, é assim que a Igreja me classifica. É uma revolta!", diz.
Isabel procurou apoio junto do casal responsável pela equipa de Nossa Senhora a que pertencia, que a acompanhou, embora tenha começado por a dissuadir. "Excepcionais, sempre me apoiaram desde o início." Foi o seu porto de abrigo, já que a família a rejeitou.
"Continuei a pertencer ao grupo da Igreja, mas o que acontece é que nós próprios nos vamos afastando, deixamos de nos sentir integrados." Não pode participar em pleno nas celebrações religiosas e não comunga por saber que é uma prática que lhe é proibida. "É contra a minha consciência. Embora os párocos, que me conhecem desde a adolescência, tivessem dito que não me recusariam a comunhão... mas também me disseram que isso não era bem-visto pela comunidade. Havia pessoas que me viravam a cara", lembra.
Hoje, a instrutora e sócia da Escola de Condução Paço d'Arcos vai à missa e continua a fazer parte do coro da paróquia, mas desligou-se da restante prática religiosa. "Volvidos oito anos, passada a minha experiência e tendo visto outras separações de filhos de pessoas que frequentam a igreja, sinto que existe uma aceitação na paróquia que na altura não senti", refere. Mas não acredita numa abertura por parte da hierarquia religiosa em relação aos católicos divorciados. E, muito menos, que isso aconteça no pontificado deste Papa.
Bento XVI defende que a Igreja deve manter "com firmeza" o princípio da indissolubilidade do casamento e critica quem tende a abençoar essas uniões, que considera "ilegítimas". A posição, que manifestou num encontro com bispos em Lourdes, França, em Setembro de 2008, foi interpretada como sendo um puxão de orelhas aos padres que promovem iniciativas a abençoar tais casais."
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quarta-feira, abril 21, 2010
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