segunda-feira, março 23, 2009

O pecado do medo ou medo do pecado - última parte

Para mim, o medo é sinónimo de pecado, de cada vez que temos medo, estamos a pecar, a pecar no sentido do pecado judeu. O medo não é coisa com que nascemos, mas sim que nos foi inculcado pelas pessoas que nos envolveram e nos acolheram e que segundo as suas crenças que, por exemplo, devemos ter medo das pessoas que têm a cor de pele diferente da nossa, entre outros exemplos, vamos sendo atulhados dos medos ancestrais da sociedade/religião em que nascemos, castrando-nos de uma vida plena e global, das interacções pessoais entre vários povos e sociedades. E nisto as igrejas cristãs não nos ajudam a ultrapassar esses medos inculcados, como ainda por cima, nos põe mais medos, especialmente os medos relativos a Deus.

Bem dizia Jesus, que os Sumo-Sacerdotes do templo de Jerusalém (hoje, os papas e cardeais do Vaticano, e outros “superiores” de outras religiões e seitas), que tudo aquilo era um ninho de víboras e cheio de hipocrisia. E ainda há quem continue a acreditar que dali sai orientações para a nossa “salvação”, bem vistas as coisas é mais para “a nossa perdição”.

Deus dotou-nos de tudo o que era necessário para percorrer os caminhos da vida em estado de solitário (não só, nem sozinho, mas solitário com os outros), sem ser em rebanho e em manada, no sentido de todos pensarem as mesmas coisas e todos terem a mesma ideia, e de todos fazerem o mesmo caminho, no rebanho não pensamos por nós, não decidimos por nós, não vivemos por nós, temos a segurança e a protecção da manada, mas não foi assim que Jesus viveu, ele nunca foi disso, e quando os apóstolos deixavam de pensar pela própria cabeça, Jesus chamava-os à realidade.

Se alguma igreja Jesus fundou, foi a igreja universal que a todos acolhe e a ninguém excomunga, esta igreja universal não tem cânones nem leis para serem cumpridas rigorosamente, não tem ritos nem rituais estipulados, não tem superiores nem inferiores, não tem chefes nem fiéis, apenas tem irmãos e irmãs independentemente das idades físicas, respeitando-se mutuamente, o objectivo é que cresçamos como seres humanos, na fraternidade.

Que assim seja.

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quinta-feira, março 12, 2009

O pecado do medo ou medo do pecado - 1ª parte

As igrejas cristãs deviam ser chamadas de igrejas do pecado, pois é isso que elas proclamam urbi et orbi, obviamente elas dizem que se sustentam nas palavras de Jesus, o problema é que o pecado judeu é diferente do pecado cristão (ver Wikipédia, que diz, “O Judaísmo considera a violação de um mandamento divino como um pecado. O judaísmo ensina que o pecado é um acto e não um estado do ser” e ainda,” O Judaismo defende que todo o Homem nasce sem pecado, pois a culpa de Adão não recai sobre os outros homens”), mas elas não fazem, ou não querem fazer, essa distinção, portanto quando Jesus fala de pecado, fala do pecado judeu e este pecado nunca é de condenação eterna.

O pecado cristão tem uma carga muito maior que o pecado judeu, o pecado cristão vem cheio de medo e de terror, capaz de destruir qualquer sã pessoa. Deus já não é Amor, Carinho, Afecto, passa a ser Legislador, Juiz, Carcereiro, Castigador.

Para mim, sempre que alguém (e eu incluído) tem medo está a pecar, não confundir receio com medo, o receio dá-nos consciência do que se passa à nossa volta mas faz com que avancemos; o medo faz-nos ficar cegos, frios, paralisa-nos, atrofia-nos.

Assim, o medo constante de estar a pecar, leva-nos a uma paralisia e a um atrofiamento do nosso viver humano pleno, e é isto que as igrejas cristãs têm alcançado com os seres humanos que lhes têm passado pelas mãos, o resultado é estes problemas que temos na sociedade humana.

Dentro destas igrejas, não conseguimos nos aceitar como seres humanos plenos, pois existe sempre uma falha (vulgo, Pecado Original) e que nunca seremos perfeitos (Deus falhou na nossa construção, menos na construção de Jesus), por outro lado, através das práticas e ritos destas igrejas cristãs podemos remendar os falhanços de Deus, sendo perfeccionistas, connosco e com os outros; então a loucura e a insanidade começa de modo suave mas eficaz a apoderar-se da(s) pessoa(s), aí existe dois caminhos; um vai para o lado de ser escravo deste perfeccionismo, estes são os fiéis que seguem cegamente as indicações dos superiores da sua religião; o outro vai para o lado de ser senhor deste perfeccionismo, sendo eles/elas, papas, bispos, cardeais, padres, madres, freiras, que criam e difundem os preceitos e os ritos que os tais fiéis terão que seguir à risca para agradar à divindade.

Estes e estas, últimos são os que perpetuam a loucura e a insanidade, sobre como temos que ser perfeccionistas, dizem-nos “Vós não sois perfeitos, mas podem talvez, se seguirem as nossas leis, cânones, ritos, preceitos, chegar a ser santos, e quando morrerem irem talvez para o Céu”.

Ser perfeito não é atingir a perfeição. Tentar atingir a perfeição é perfeccionismo. Ser perfeito é aceitar-se como perfeito, aceitar que Deus/Amor/Vida está/é em nós sempre e em qualquer lugar que estejamos. Ser perfeito não é um ser acabado, é um ser a fazer-se, em construção, não que Deus tenha falhado na nossa construção, mas em unidade pessoal com Deus, somos simultaneamente, criados e criadores de nós mesmos. A criação de Deus não acabou ao fim de sete dias, pois em termos cósmicos estamos ainda no início do sexto dia.

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terça-feira, março 10, 2009

O João – 2ª parte

Lembram-se do João deste post João - Parte 1

Voltámos a conversar nos cinco minutos que medeia entre a paragem em que entramos os dois e ele sai.

Falámos da úlcera varicosa que tem há mais de um ano na perna direita, e dos tratamentos que tem que fazer três vezes por semana até à operação que vai fazer em Abril.

Estava bem-disposto, cheio de energia.

Houve ainda tempo para um “Se Deus quiser” e um “E se nós quisermos”.

Um aperto de mão e um até amanhã.

terça-feira, março 03, 2009

Quarenta dias e quarenta noites

«O Espírito conduziu Jesus ao deserto a fim de ser tentado pelo demónio. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome» (Mt 4, 1-2)

Para perceber o texto, é necessário ir para dentro daquela sociedade, daquele conjunto de crenças, daquela mentalidade. Esta viagem, este “O Espírito conduziu Jesus” é para o interior de Jesus, não para o exterior, este Espírito não levou Jesus para o deserto exterior mas sim para o interior, é lá que “faltando” o que nos parece essencial, deixa de o ser, este “parecer essencial” é que é a tentação, o “Demónio” é o conjunto da nossa mente tagarela com o nosso ego de identificação, e de maneira nenhuma estou contra a existência deles, mas devem ser mantidos nas suas devidas proporções.

Jesus foi tentado pelo demónio (mente/ego) nesse deserto interior, basicamente meditou, entrou em meditação profunda. Era prática comum naqueles tempos, o jejum, Jesus não passou fome só por passar fome, o jejum físico é consequência dessa meditação profunda. O número quarenta significa provação, na mentalidade daquele tempo, por isso Jesus não jejuou fisicamente durante quarenta dias e quarenta noites, fisicamente é impossível, mas jejuou de tudo de todas as crenças e mentalidades do seu tempo, mas no fim teve fome, fome de humanidade, fome de estar com os outros, por que estava cheio de si mesmo esvaziando-se de todas as coisas que o seu ego e a sua mente o preenchiam antes deste tempo de meditação profunda e de encontro consigo mesmo.

Este é um convite que ele nos faz, antes de estar e viver profundamente com os outros, temos que estar e viver profundamente connosco próprios.

Então, vamos a isso.

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