Ela vem doce e suavemente, ela vai-se instalando em nós, vai-nos tirando a pouco e pouco o nosso riso, a nossa alegria natural.
Ela vem e meigamente nos faz sérios, cumpridores de morais e de leis, tornamo-nos rígidos.
Ela nos dá um beijo cínico e de seguida nos diz “Olá cá estou eu, venho cuidar de ti” e então vamo-nos deixando cair nos seu braços, desistindo de nós, não acreditando em nós, perdendo a nossa auto-estima.
Ela vem como servidora, mas o seu objectivo é ser a nossa carrasca. Diz-nos “Vem cá meu menino, quero tu sejas para sempre o meu menino, nem penses em crescer”.
Ela vem com os braços abertos para nos afagar e para nos prender e nos fechar na cave onde não há luz.
Na cave ela nos alimenta com os restos estragados de comida de há 2000 anos e nos dá de beber do seu próprio fel, que boa mãe dirão os outros que lá estão na cave há mais tempo que nós.
Ela nos retira da luz, e os nossos olhos apenas se alimentam da pouca luz que passa pelas frestas da parede da cave.
E nós pensamos, que sorte a minha estar aqui, pelo menos estou protegido e a ser querido, alguém gosta de mim, por que eu não gosto de mim, como posso gostar de mim, se a religião que eu sigo rigidamente, me diz que eu sou um pecador mesmo antes nascer, e antes de fazer qualquer coisa em consciência; quando me senti Eu, eu já era pecador e pecador serei até morrer, terei que fazer qualquer coisa, mandam-me rezar, rezar muito, rezar correctamente sempre seguido os ritos estipulados, rezar as orações que nada me dizem, mas dizem-me que são eficazes para com o deus que me criou pecador, é esse deus que terá que reparar o estrago, eu não posso ser responsável por este erro divino que sou Eu.
Sim, sou um erro divino deste deus mecânico maluco, e fico assim pensando, por que não posso dizer aos outros estes meus pensamentos, tenho que continuar a dizer-lhes que deus é misericordioso, bondoso, que é amor, que nos quer ajudar a não sermos pecadores, e para isso mandou a sua mãe para aparecer em certos sítios, onde se construíram santuários onde se reza incessantemente para que o Homem corrija o erro divino do pecado, e assim durante a minha vida, corro em busca de perdão por não estar a conseguir deixar de ser pecador, e então vou cheio desta necessidade perdão a todos os santuários e locais santos, cada vez mais, não sei quem sou, e nem sei o que deveria ser, nem me consigo decidir quem quero ser.
Ela, a nossa amiga falsa, aquela que espera que nós a qualquer momento que lhe caiamos nos seus braços, vive feliz por nos ver nestas aflições, e nos diz constantemente: “Cá te espero meu menino, esquece de ti mesmo e eu cuidarei de ti”.
Eu já estive nesta cave, mas já não estou lá. Vivo em plena Luz, do gostar de mim, do cuidar de mim, de assumir as minhas próprias responsabilidades, do viver Deus sem erro, vivo a perfeição (mas não o perfeccionismo) do Universo.
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quarta-feira, julho 30, 2008
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1 comentário:
É por isso que gosto de ti...
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