terça-feira, fevereiro 10, 2009

O livre arbítrio é pessoal e intransmissível

“Gozar, eu? Estou a falar muito a sério. Sabes quanto tempo andei e o trabalhão que me deu para descobrir o jardim do Éden? Precisei de 43 anos e uma sentença de morte, para descobrir o jardim do Éden e o local onde se encontra. Precisei de 43 anos e cair durante meses numa cama de hospital com um cancro no sangue. Precisei de aprender a Amar, amando-me. Precisei de aprender a Aceitar, aceitando-me. Precisei de aprender a Perdoar, perdoando-me. Precisei de aprender a Respeitar, respeitando-me. Sabes o que contribuiu fortemente para me envenenar o sangue? A culpa. E podes perguntar: culpa de quê? Culpa de tudo, aprendi cedo a ser responsável ao ponto de me culpar de tudo, assumia e penitenciava-me pelas minhas falhas e pelas dos outros. Se os outros falhavam era porque não tinha sabido evitar que falhassem, não os tinha sabido esclarecer, não lhes tinha sabido explicar. Destes outros não fazia parte o mundo inteiro, mas faziam parte todos de quem gostava e os que com quem lidava. Queres maior aberração? Envenenei o meu sangue estúpida e pretensiosamente. É claro que não assumia as culpas que não tinha e as dos outros por pretensão, mas a atitude era estúpida e pretensiosa. Foi difícil, duro, muito duro, mas aprendi. Aprendi que apenas o próprio é responsável pelos seus actos, aprendi, entre muitas outras coisas, que o livre arbítrio é pessoal e intransmissível.”

Do livro “Pecar em nome de Deus”
Página 196
da Otília Pires de Lima

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