terça-feira, novembro 04, 2008

A pobreza e a industria da pobreza

Tanto se fala de pobreza, e que temos que acabar com a pobreza, e que é um problema social grave, e que é um assunto que os políticos devem resolver, pois eles próprios se propõem resolver através de promessas eleitorais, e que a pobreza não devia existir, entre outras coisas que se diz da pobreza.

A pobreza de que se fala tanto e para tanto se pede dinheiro, é a pobreza de dinheiro, os pobres (nesta conjectura económica e social) são aquelas pessoas que não se adaptaram a este sistema económico baseado no dinheiro, que não quiserem usar as técnicas dos banqueiros e outros agiotas, portanto, quem não tem dinheiro é pobre e sendo assim não tem acesso aos bens essenciais à sobrevivência do seu corpo.

Ora, muitas pessoas se organizaram em instituições, tanto de cariz religioso ou não, que se dedicam a cuidar destes pobres, assim os pobres aparecem como um produto que tem que ser valorizado e mantido, segundo as regras de uma boa gestão empresarial, o desaparecimento da pobreza levaria os donos e os funcionários destas instituições, para o desemprego e isso decerto que os desagradaria. Por isso é de todo o interesse manter os seus postos de trabalho à custa da pobreza dos outros, e ainda por cima ficam famosos por se dedicarem aos “coitadinhos e pobrezinhos”.

Ora se esta pobreza de dinheiro e através dele, as pessoas sentirem que não conseguem comprar (com dinheiro) os bens essenciais à sua sobrevivência, qual é a solução para esta pobreza? Para mim é acabar com o sistema económico baseado no dinheiro, é o uso deste sistema que remete muitas pessoas para o desespero de não conseguirem o dinheiro suficiente para a obtenção de bens essenciais, estas pessoas passam então a ter ideias de roubar e de usurpar o dinheiro que outros têm em excesso, por sua vez quem tem dinheiro a mais começa a pensar na salvaguarda do seu dinheiro com medidas de segurança para que não haja roubos. Estão a ver a paranóia, que este esquizofrénico sistema cria nas pessoas?

Se a natureza nada nos cobra pelos alimentos, por ela fornecidos para a sobrevivência do nosso corpo, por que haveremos nós de cobrar dinheiro aos outros seres humanos pelos bens que a natureza nos dá de graça? Por que é que os bens trocados entre nós têm que ser valorizados em termos de dinheiro? Por que temos que produzir a mais para que os preços baixem? Por quê a lei da oferta e da procura? Fala-se, hoje em dia, tanto de ecologia e de soluções ecologicamente sustentáveis, mas o dinheiro não é um factor de sustentabilidade do sistema ecológico do planeta terra, mas tenta-se a todo o custo que assim seja, mas por mim nunca será; este sistema arrasta milhões de pessoas para a pobreza e para o desespero, e ainda por cima leva à destruição da vida no planeta Terra, em que vivemos.

Por que é que os alimentos em excesso produzidos na Europa e na América, não chegam às bocas famintas de outros continentes? A causa está nos custos ao nível de dinheiro para os fazer chegar lá onde há fome. Então o dinheiro é algo que resolve os problemas da fome no mundo? Eu acho que é como a areia numa engrenagem, ou como um cão que dorme na manjedoura, não come nem deixa comer.

Portanto, vamos transcender o dinheiro, quando a gravidade das carências humanas ultrapassa os limites do razoável, e mais que manter os nossos postos de trabalho, vamos ao encontro dos outros e pondo ao seu dispor o que achamos que lhes faz falta, sem preço, sem contas, sem contabilidade, sem dinheiro, apenas os produtos e bens. Criemos áreas nas nossas sociedades em que o dinheiro não entre, em que a organização esteja apenas atenta à distribuição, repartição conforme as necessidades, sem areias nas engrenagens; mas quem quiser continuar a usar o dinheiro, tudo bem, mas que não seja um panaceia global e mundial, em que todos temos que estar envolvidos.

Que assim seja.

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